Quase metade das brasileiras (48%) que trabalham com tecnologia acredita que o home office facilita a igualdade de gênero no setor. Porém, para 40% a experiência da pandemia pode estar atrasando o desenvolvimento profissional. É o que revela a nova pesquisa da Kaspersky “Mulheres em Tecnologia: Onde estamos? Compreendendo a evolução feminina no setor”.
No início do isolamento social, criou-se uma expectativa de que o confinamento poderia diminuir a desigualdade entre homens e mulheres na indústria tecnológica ao, supostamente, nivelar as condições de planejamento social e familiar. Porém, preconceitos enraizados sobre disponibilidade de carreira e longevidade dificultam este avanço.
De certa maneira, as novas estruturas de trabalho trouxeram melhorias para as mulheres no setor. No estudo, boa parcela das profissionais brasileiras reforçaram a preferência pela casa em relação ao escritório (43%). Além de eficiência, o sistema de home office também oferece maior autonomia, segundo quase 45% das entrevistadas.
Porém, os resultados mais preocupantes mostram que trabalhar em casa não está tendo o impacto desejado no avanço social. Quase metade (46%) das brasileiras afirma que, desde março do ano passado, tem lutado para combinar trabalho e vida familiar, proporção que segue uma tendência global. Entre as funções cotidianas que estariam prejudicando a produtividade ou o avanço na carreira dessas mulheres, 67% alegaram ter feito a maior parte da faxina doméstica, em comparação a 47% dos homens.
Atraso na carreira
Cerca de oito em cada dez brasileiras (78%) disseram ser responsáveis pela educação domiciliar, enquanto 56% dos homens responderam o mesmo. Para cuidar da família, quase metade (46%) das mulheres afirmou ter feito mais ajustes à jornada de trabalho do que seu parceiro. Como resultado, 40% das brasileiras entrevistadas acreditam que os efeitos da Covid-19, ao invés de melhorar, atrasaram seu crescimento profissional.
“Entre as mulheres, a pandemia teve efeitos diferentes: algumas reconheceram que, por não ter que se deslocar para o trabalho, conseguiram maior flexibilidade em seus horários e economia de tempo, enquanto outras confessaram estar à beira da exaustão. Por isso, é crucial que as empresas garantam que seus gestores estejam alinhados com a estratégia corporativa para apoiar os funcionários no cumprimento de suas responsabilidades familiares”,diz Patricia Gestoso, diretora de suporte científico ao cliente da BIOVIA, vencedora do 2020 Women in Software Changemakers e membro da rede de mulheres profissionais Ada’s Lista.
“Outra tendência importante da pandemia é conciliar a existência simultânea de trabalhadores remotos e híbridos (quem combina o home office com o escritório) em uma mesma organização. Isso representa um desafio para mulheres que trabalham remotamente, já que podem ter menos acesso à diretoria que está no escritório. Isto pode diminuir suas chances de ser consideradas para projetos e responsabilidades que levam a promoções. Os empregadores precisam ter consciência dessas desvantagens e considerá-las em suas estratégias a fim de minimizar essa diferença”, alerta Patricia.
Embora não sejam exclusivos da indústria tecnológica, esses exemplos de disparidade apontam para uma barreira que impede as mulheres no Brasil e no mundo de tirarem proveito da mudança para o home office. Quase metade (48%) das brasileiras no setor (em comparação com 37% dos homens) acredita que um ambiente de trabalho igual seria o melhor para o seu avanço na carreira. Proporção semelhante (48%, contra 30% dos homens) pensa que o trabalho de casa é uma forma de alcançar essa igualdade.
Representação feminina
Para Merici Vinton, cofundadora e CEO da Ada’s List, o setor de tecnologia deve agora manter sua própria motivação. “As empresas precisam sinalizar, tanto por meio da cultura quanto com políticas, que darão às mães e aos pais a flexibilidade de que precisam durante e depois da pandemia. As empresas devem entender que a representação feminina é importante, e ter mulheres na liderança, equipes majoritárias de mulheres e mulheres participando das entrevistas, tudo isso mostra que há espaço para elas em sua empresa”, comenta.
Daniela Dias, diretora de marketing da Kaspersky no Brasil, acrescenta: “Acredito que você precisa de paixão para ser um líder em tecnologia, e, para entendê-la, não precisa ser um desenvolvedor ou codificador. A educação é sempre a melhor maneira de mudar as percepções equivocadas, mas a tecnologia ou a cibersegurança cibernética deveriam ser mencionadas como opções de carreira nas escolas. Por isso valorizo iniciativas como o Women Who Code e o Women in Cybersecurity, que estão presentes na América Latina, e buscam minimizar a lacuna de conhecimento e aumentar as opções de talentos na nossa área.”
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